Sexta-feira, 1 de Julho de 2011

Medina Carreira: Vídeo: " Qualquer dona de casa teria feito melhor!"

 

 

Assista à entrevista  "Ideias em Estante", publicada no Económico e emitida no ETV.

Esta semana: Medina Carreira, autor de " O Fim da Ilusão"

 

 

 

 

 

'O Fim da Ilusão' é a nova obra de Medina Carreira.

O autor elogia o Governo por ter gente que não é promovida por estar na política. "Isso dá liberdade"

 

 

 

 

Sem ilusões! Esta é frase exclamativa que resume a conversa com o professor Medina Carreira. Conhecido pelo tom crítico, sem papas na língua, o ex-ministro das Finanças do primeiro governo constitucional tem sido uma das vozes que mais alertas lança para o estado das finanças públicas portuguesas - nomeadamente no que toca ao endividamento, à despesa pública e à carga fiscal. Autor do 'bestseller' "Portugal que Futuro?", escreve agora "O Fim da Ilusão ", livro que marca uma vez mais pelo tom crítico do seu ADN. Em conversa (que será transmitida na íntegra no ETV) diz Medina Carreira também - e indo além do conteúdo do livro - que "este Governo trouxe o precedente, que já não existia há muitos anos, de levar para a política gente que na política não é promovida. Na política até é despromovida, pelo menos economicamente". Isso dá liberdade e independência, conclui. Sobre o presente, entende que a primeira coisa que se deve passar na sociedade é que a comunicação social, "de uma forma geral", deve começar a entender que a política depende dos factos. Pensar que a política pode ser desligada da realidade económica é um erro. "Hoje há uma economia que não permite qualquer política."

 

Porque é que neste livro advoga que este é pior momento que o País atravessa desde que "guardamos memória"?

 

Se observarmos a situação da economia portuguesa, que tem um dinamismo equivalente ao princípio do século XX (uma economia que cresceu a meio por cento), significa que, do ponto de vista de economia, estamos tão mal como estávamos no passado; se olhar para o nível do desemprego, desde que há registo de desemprego, nunca se atingiu uma taxa tão elevada; se pensarmos na dívida pública, desde há mais de 160 anos não se tinha um nível tão elevado. Portanto todos estes indicadores de natureza comparativa mostram que o País atingiu um estádio de que ninguém vivo tem memória.

 

Tem vindo a alertar para alguns indicadores macro económicos...

 

O que aconteceu, aqui com mais intensidade do que em outros países europeus - apesar de outros também terem coisas parecidas - é que as políticas de gastos públicos desconheceram a economia que tinham. Nós criámos um modelo de sociedade em que, devido ao dinamismo da economia europeia de há 40 anos, não era preciso fazer contas para colocar a despesa dentro da capacidade económica que existia. O que acontece é que a economia foi sempre declinando - aqui e no resto da Europa - e o Estado foi gastando aquilo que entendeu. Há dois números muito fáceis de registar: a economia portuguesa dos últimos 20 anos (1990 - 2010) cresceu 1,8 (em média anual) e a despesa pública corrente primária cresceu 4,2. Qualquer dona de casa percebe que se o seu rendimento do lar crescer 1,8, a despesa não pode crescer 4,2. Teoricamente qualquer dona de casa teria feito melhor do que os governos que tivemos.

 

Utilizando a analogia da dona de casa: o que é a dona de casa pode fazer? Horas extra? Produzir mais? Gastar menos?

 

Vamos ter que fazer de tudo. Desde logo, e porque pôr a economia em funcionamento é mais difícil e mais lento do que cortar na despesa, a primeira coisa que teremos de fazer é colocarmo-nos dentro da nossa capacidade para gastar. Isto é, teremos que gastar aquilo que produzimos. É isso basicamente que pretende este acordo com os estrangeiros: colocar os portugueses a viverem com aquilo que têm.

 

O fim da ilusão?

 

É evidente. Nós andámos descuidadamente a viver com um nível de vida para o qual não tínhamos dinheiro. Nos últimos dez anos tivemos um nível de vida que se sustentou no endividamento e não naquilo que nós produzíamos. Ora quando vivemos do endividamento, tarde ou cedo vamos ter que ser reconduzidos à nossa capacidade normal de produção. E foi o que aconteceu e que foi lamentável, porque tudo isto traduz uma irresponsabilidade e incompetência total dos governos. Porque os governos teriam que reconduzir a sociedade portuguesa àquilo que poderia gastar e não a pedir dinheiro emprestado para viver melhor.

 

Está optimista com o novo Governo?

 

Eu conheço algumas das pessoas que aparecem no Governo, mas isso é relativamente indiferente. Sabe que um dos vícios da política dos últimos dez a vinte anos foi aparecer gente que não tem profissão. Gente que entrou para a política e vive da política. O que é que isto significa é que têm que estar sempre com o partido do poder senão vivem mal ou vivem com estatuto social minimizado. Aquilo que considero mais vantajoso é que este Governo é composto por gente que não foi promovida por ser ministro. Já tinham um estatuto social e económico em que ser ministro é menos do que ser aquilo que eram. Este Governo trouxe o precedente, que já não existia há muitos anos, de gente que na política não é promovida. Na política até é despromovida, pelo menos economicamente. Isso dá liberdade e independência. As pessoas estão enquanto querem, quando não quiserem ou não concordarem saem.

 

 

publicado por livrosemanias às 11:49
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