Maria João Valente Rosas, autora de " O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa", responde a "três perguntas".
1. Quais são as principais razões para vivermos, hoje, num país envelhecido?
Sintetizaria numa palavra: desenvolvimento. A perda do valor económico da criança (já não se espera que sejam os filhos a garantir a sobrevivência na velhice, nem sequer estes são a fonte essencial de rendimento familiar), as maiores qualificações (e o alargamento das expectativas profissionais), a independência das mulheres e a sua maior inserção no mercado de trabalho, a urbanização (associada ao anonimato e à liberdade) são, entre outros, fatores a ter em consideração para se compreender os débeis níveis de fecundidade (descendências menos numerosas, portanto), o que se reflete na diminuição de nascimentos. As melhorias das condições de vida e de saúde foram, ainda, decisivas para a diminuição dos níveis de mortalidade e, consequentemente, para o aumento do número de pessoas que atingem idades mais avançadas. Portugal não é, aliás, original por estar a envelhecer, pois as regiões mais desenvolvidas do mundo são também as mais envelhecidas. O ritmo do envelhecimento demográfico em Portugal poderia, contudo, ter sido menos acelerado do que foi nas décadas mais recentes. Tal aconteceu por a descida dos níveis de fecundidade e de mortalidade ter sido acentuadamente forte (muito rápida), agravado por uma emigração intensa centrada nas idades ativas mais jovens, também elas mais férteis.
2. O que pode – e deve – ser feito para nos adaptarmos à nova estrutura social?
Uma nova ordem social é o caminho. O problema das sociedades modernas não é o futuro, é o passado. Estamos presos a modelos disfuncionais que herdámos, em que as lógicas de vida partidas em fases antagónicas, a defesa incondicional dos direitos adquiridos ou as barreiras de idade e de nacionalidade em nada beneficiam o sucesso da sociedade e a felicidade individual. O tempo parcial da reforma e do trabalho, o exercício de várias carreiras, o reforço da formação ao longo da vida são, assim, algumas ideias avançadas no ensaio O envelhecimento da sociedade portuguesa, em substituição de outras que, apesar de desfasadas, ainda continuam a marcar as nossas vidas, como a reforma compulsiva, o emprego para toda a vida ou a carreira única.
3. Como analisa as recentes notícias, que dão conta que os jovens portugueses estão a sair do país, tal como os emigrantes estrangeiros que cá têm vivido nos últimos anos?
A confirmarem-se esses dados, concluo que estamos a perder uma oportunidade competitiva enorme, num tempo em que o conhecimento é cada vez mais decisivo. Portugal é um país ainda muito marcado pelo enorme défice de qualificações. Ora, em relação aos estrangeiros mais qualificados, não estamos a conseguir fixá-los, tendo sido aliás frequentes os casos de imigrantes de países do Leste Europeu em que desconfiámos das suas competências. Quanto aos jovens qualificados que estão a sair, o problema não está tanto na sua saída (numa sociedade globalizada, entradas e saídas deverão ser vistas como naturais), mas por três razões essenciais: (1) de precisarmos muito deles (são a geração mais qualificada), motivo por que Portugal fez um investimento tão sério nesses jovens; (2) de não irem apenas por um ano ou dois (corremos o risco de os outros países conseguirem fixá-los); (3) de não atrairmos imigrantes com igual nível de qualificação para compensar essas saídas (e, quando tal acontece, termos dificuldade em inseri-los no mercado adequado).